quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O que a Educação de Adultos oferece aos participantes, na opinião dos próprios?


Júri de certificação do Processo de RVCC de nível básico

“Dá às pessoas um melhor lugar na sociedade, ao ensiná-las”. O que implica isso? Quando é que se ganha um melhor lugar na sociedade ou, por outras palavras, quando se melhora a respectiva inclusão social?

Maurice de Greef, Mien Segers e Dominique Verté levaram a cabo um estudo fenomenográfico em dois centros regionais de educação, nos Países Baixos, visando identificar os efeitos experimentados pelos participantes nas suas vidas graças à frequência de um dado curso. É um facto que as pessoas desejam ser aceites pela família, por amigos e pela sociedade. E procuram deixar a sua marca. É o que se chama “internalização”. Projectos na área do bem-estar mostram, no entanto, que o passo para a internalização nem sempre pode ser dado; é travado pela necessidade de uma prévia aquisição de competências e conhecimentos ou comportamentos de indispensável aplicação. Assim, a internalização fica dependente de uma “activação” por parte do adulto. Para além de se deixar uma marca própria e pessoal na sociedade, pode dar-se um outro passo em direcção à participação activa. São disso exemplos a participação em actividades locais, em actividades para um clube ou em actividades nas artes e cultura. De facto, a participação não é apenas um processo individual, pois a participação em actividades promove a interacção entre pessoas: é um processo de “conexão”.

A inclusão social como resultado da educação de adultos explica-se, assim, através de quatro processos desencadeados pelos participantes de qualquer curso, a saber:
- Activação (aprender para saber);
- Internalização (aprender para ser);
- Participação (aprender para fazer);
- Conexão (aprender para viver em comum).

Os quatro processos da inclusão social articulam-se com todos os contextos, nomeadamente de vida, criação dos filhos, educação, trabalho, tempos livres, ajuda e assistência. Por exemplo, os participantes têm mais contacto com os colegas no trabalho (conexão e trabalho), sentem-se mais em casa no seu próprio ambiente de vida (internalização e vida), vão ao médico com maior frequência sempre que é necessário (participação e ajuda / assistência) e comunicam melhor por meio do computador com outros familiares (activação e tempo livre).

Os efeitos da educação de adultos, segundo os próprios participantes são, na base das quatro categorias de inclusão social já referidas:
A. Activação
Os participantes são mais senhores de si dentro e fora de casa. Podem exprimir-se e dar opiniões, tanto oralmente como por escrito, em contextos particulares e de trabalho, passando a compreender melhor o que os outros lhes dizem. Conseguem ocupar-se bem da correspondência, tanto recebida como enviada (possivelmente também a electrónica). Podem planear as actividades diárias e manter-se em dia com a administração e as finanças (possivelmente com alguma ajuda).
B. Internalização
Os participantes podem ser eles próprios e sentem-se bem ao fazê-lo. Vivem de forma mais independente, são responsáveis pela gestão da casa e (se necessário e desejável) têm um emprego razoável e (provavelmente) criam os seus filhos. Podem expressar-se bem, de forma oral ou escrita, tanto em casa como no emprego e com os serviços oficiais (tais como as autarquias) e também com as crianças (e a escola). Podem fazer coisas fora de casa, lançar iniciativas e retirar prazer daquilo que empreendem.
C. Participação
Os participantes ocupam-se das suas próprias necessidades no quotidiano – fazer compras, tratar das questões financeiras e da correspondência com bancos, correios, etc. Podem também exprimir-se correctamente no seu relacionamento com serviços públicos, tais como a polícia ou a autarquia. Além disso, em caso de doença, sabem contactar as instituições adequadas, quer seja o clínico geral, o hospital ou a farmácia. Nos seus tempos livres, participam em eventos na sua área, por exemplo, actividades locais ou saídas ao restaurante.
D. Conexão
Os participantes mantêm contacto com familiares, amigos e conhecidos e estabelecem novos relacionamentos. Se necessário, utilizam transportes públicos ou os seus próprios veículos para o mesmo efeito. Têm boas relações com outros residentes da mesma área. Encontra-se com novas pessoas (se necessário e desejável), o que pode ser por vezes a consequência de prestarem informações ou de ajudarem os outros.

O estudo veio provar que a educação de adultos gera resultados concretos. Com efeito, o impacto da educação de adultos revela-se através dos resultados deste trabalho de investigação, resultados que se mostram extremamente elevados:
- 100% dos participantes passam a gerir melhor as coisas, dentro e fora de casa (activação);
- 93,75% sentem-se mais felizes e mais seguros (internalização);
- 34,38% envolvem-se em novas actividades (participação);
- 59,38% encontram-se com mais pessoas e têm mais relacionamentos (conexão).
Estudos anteriores na área da educação mostraram que apenas 10 a 20% do que se aprende é efectivamente aplicado. Os resultados da educação de adultos são muito mais elevados e mais positivos. É aqui crucial a experiência do sucesso, que pode ter um enorme efeito sobre cada pessoa. A educação de adultos pode significar um “aguaceiro positivo” para cada participante, capaz de varrer em enxurrada os problemas específicos do quotidiano, permitindo construir depois uma base frutífera para a mudança e a melhoria das condições diárias da existência.
Este estudo foi publicado em Agosto de 2010 pela Editora Elsevier, na série “Studies in Education Evaluation”, com o título “Development of the SIT, an instrument to evaluate the transfer effects of adult education programs for social inclusion”. Ver: http://www.citeulike.org/article/7588251

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