Igreja do Divino Salvador - Antiga Igreja de Joane |
Presentemente Joane é uma vila com cerca de oito mil habitantes. Já tem alguma indústria e comércio, no entanto, perdeu toda a sua vertente agrícola. Infelizmente, tornou-se uma vila feia, com um urbanismo desordenado e sem infra-estruturas de relevo. Nos dias de hoje, a construção desordenada tirou muita da beleza que havia nas vilas e aldeias da região, para além de se ter perdido toda a convivência que havia entre vizinhos. Nos livros de Eça de Queirós ou Júlio Dinis, o que mais aprecio é a descrição do autor relativa à proximidade e convivência entre os vizinhos. (…)
Lamento que vivamos tempos onde nos isolamos nas nossas casas, com muros de dois metros de altura ou, então, em apartamentos onde não conhecemos sequer o vizinho da porta ao lado. (…)
Sendo o ordenamento do território uma gestão entre o espaço natural e o Homem, no caso da vila de Joane nada se enquadra. A vila cresceu, sobretudo, em redor da sua estrada nacional, com edifícios de diferentes alturas e arquitecturas. Uma pequena vila como esta não é uma cidade, devia ser estudado todo o seu urbanismo e enquadrar toda a construção horizontal nesta paisagem semi-rural. Nota-se um aglomerado humano junto das vias rodoviárias e noutros locais essas mesmas vias quase não existem ou estão de tal modo degradadas que é quase impossível transitar por elas. É notório que, no caso de Joane, nunca houve um estudo ou análise de qualquer tipo de planeamento urbanístico.
Principal rotunda da Vila de Joane |
Infelizmente, Joane é o espelho do que se passa neste país. Os interesses económicos e pessoais, onde a corrupção impera, estão bem à frente do interesse do ordenamento do território. E não se trata somente de salvaguardar o interesse paisagístico, o prejuízo que é infringido em muitas áreas, que deviam ser protegidas, e no ambiente podem ter desfechos terríveis no futuro. É fácil perceber que por motivos económicos as zonas costeiras foram sobre povoadas, em alguns casos construi-se em cima de leito de mar e de dunas e agora vemos essas zonas serem invadidas pelo mar. Mais flagrante ainda é a construção em leito de rio. Devido às alterações climáticas os rios invadem constantemente habitações e só o fazem porque neste país nunca houve um ordenamento de território. Em 2010, tivemos na Madeira mais uma prova do “belo serviço” feito pelas Câmaras Municipais com a conivência do Poder Central! A troco de mau ordenamento, subornos e corrupção, perdem-se vidas e bens.
É evidente que não nos podemos opor ao crescimento das zonas urbanas, mas devemos fazê-lo respeitando a paisagem onde esse crescimento se insere.
O mesmo se passa a nível de vias de transporte. Nos últimos anos, vimos ser construídas auto-estradas em locais onde nunca deveriam existir. Em certos casos, era preferível fazer a conservação das vias já existentes. Como este país é de extremos, temos povoações no interior onde só é possível ir de carroça, ou porque não existem vias de transporte ou porque estas têm buracos de 30 centímetros de profundidade e o litoral atravessado por verdadeiras “estradas” de auto-estradas! O ridículo dos ridículos é que se construíram auto-estradas por esse interior fora para evitar a desertificação e depois fecharam-se centros de saúde e escolas! Ora aí está Portugal no seu melhor!
Maria Manuela Rafael (excerto do seu Portefólio Reflexivo de Aprendizagens do Processo RVCC – Nível Secundário – Grupo 01/2011)
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